mamãe noel

Sabe por que Papai Noel não existe? Porque é homem. Dá para acreditar que um homem vai se preocupar em escolher o presente de cada pessoa da famí­lia, ele que nem compra as próprias meias? Que vai carregar nas costas um saco pesadí­ssimo, ele que reclama até para colocar o lixo no corredor?

Marta Medeiros, no livro “Trem-bala”, L&PM Editores – Porto Alegre, 2002, pág. 177.

Pois é, a Ana disse num comentário ai embaixo que a Rebelde que tem dentro dela í s vezes se transforma num saco grande demais, a la Papai Noel.

Vejam se em dezembro essa é não é uma boa metáfora? Numa sessão na terapia minha terapeuta disse que na verdade eu cedo muito mais í  uma conformista do que a uma rebelde verdadeira. E eu fiquei pensando que na verdade minha Rebeca também se transforma í s vezes num saco enorme e pesado como de papai Noel. (Cheio de presentes e cuidados com todo mundo e cheio também de esquecimento por mim mesma. Mas isso é outro post)

E ainda na sessão de terapia a gente trabalha e meio que conclui, (meio parcamente) que na verdade eu ainda estou grudada demais num núcleo familiar (eu tô pra ver alguma psicanálise que não vai concluir isso).

Que na minha famí­lia não há tradição de mulheres bem sucedidas, que na minha famí­lia é complicado demais ser feliz. (Eu tb queria saber onde é fácil ser feliz…)

E que em vista disso eu tenho medo de ser totalmente feliz porque estaria me diferenciando cada vez mais e mais de uma famí­lia onde ser mulher é sentença de infelicidade, onde não existe apreço nenhum pelas mulheres, onde elas são, antes de tudo, muito infelizes.

Pois é, certamente deve ter algum sentido. Minha famí­lia absorveu bem a tradição patriarcal e não valoriza as mulheres em absoluto. Valoriza apenas como mão-de-obra. E a cada conquista minha eu tenho que promover alguma desconquista pra contrabalançar.

Imagina, ser bem sucedida profissionalmente, bem casada, feliz na maternidade e ainda por cima magra? Não vai dar né Nalu, volta aqui e junte-se a nós, as Mulheres da Sua Famí­lia! Aqui não é permitido ser feliz, aprenda!

E daí­ a Rebeca só pode mesmo atacar pelas beiradas, como eu disse. Ela não pode ser inteiramente livre. Com o peso de tantas gerações em cima dela (Vejam que as metáforas peso e prisão são recorrentes.)

E essa brincadeira toda ainda faz com que o peso do tal saco do papai Noel vá ficando cada vez maior. E pra agí¼entar todo o peso do saco de frustrações auto impostas (ou não), todo o medo de ser feliz, só mesmo tendo um corpo grande né? Bem grande, diga-se de passagem.

Mas eu tenho que superar esse medo, pois ainda estou engordando, é preciso ser leve. E livre. Coisas complicadas para uma mulher na minha famí­lia.

4 comentários em “mamãe noel”

  1. Nalu, não acho mesmooo que vc tenha que ficar presa a essa tradição patriarcal, e pq não ser bem sucedida profissionalmente, bem casada, feliz na maternidade e ainda por cima magra? Claro que vc pode…pode sim senhora!!! As mulheres de hj em dia são sim felizes em todas a áreas que quiser e vc tb poderá ser!!! Não deixe que esse peso te atrapalhe não… Vc tem tudo pra conseguir e vai conseguir…é só colocar isso como SUA META DE VIDA, e nada nesse mundo vai conseguir te atrapalhar!!!
    Nossa, desculpe se ficou meio confuso, mas é isso… Precisando estou aqui pro que der e vier, pode contar comigo sempre, tá? Bjos!

  2. Nalu, sobre este seu post eu tenho dois comentários a fazer:
    O primeiro é sobre papéis. Acho que ao longo da vida a gente vai formando na nossa cabeça imagens para cada um dos papéis – o de mãe, o de profissional, o de esposa….
    Essa imagem talvez seja formada por tudo aquilo que a gente viveu antes e de mais uma série de fatores. E a imagem que eu tenho na minha cabeça para o papel de mãe é de uma pessoa gorda – e não me pergunte porque. Minha mãe sempre lutou contra a balança, mas nunca foi gorda. Minha avó sempre foi hiper elegante e sempre tive tia modelete.
    Mas na minha cabeça o papel de mãe equivale a uma mulher gorda. Aliás, se vc quer que eu seja sincera com toda a força, minha cabeça retrógrada não consegue conceber uma mulher competente, bem sucedida, inteligente, mãe e magra! Loucura total, né?! E uma das minhas lutas atuais é aceitar para mim – e não para os outros, porque para os outros podem muito mais do que eu, né? Eu permito aos outros ser tudo isso, só não permito a mim – então, voltando, é aceitar para mim que eu posso ser competente, bem sucedida, inteligente, mãe e magra!
    A segunda coisa que eu queria te dizer é que meu terapeuta sempre dizia que a gente tem papel pré-estabelecido na família. Um é o que exige cuidados, outro é o cuidador, outro é o responsável, o outro só serve para chutar o pau da barraca..e assim a dinâmica de uma família se desenvolve. Esses papeis são impostos e aceitos por cada um, mas que não são eternos, não têm que ser para sempre assim. Metaforicamente, ele sempre dizia que se um membro da família chegasse com a sua cadeira e falasse: “eu vou me sentar aqui”, todos os demais iriam mudar o seu lugar de posição.
    E acho que isso é muito legal e verdadeiro. Isso quer dizer que a gente pode sim mudar, mas mudar é arriscar, né? Mudar é arriscar não ser mais aceita, achar que pode ser que alguém que a gente ame não goste mais da gente. Mas Nalu, acho que isso é um medo só da nossa cabeça, sabe? Todo mundo tem medo da mudança, mas na hora que ela vem, todo mundo se adequa a ela.
    E por fim, Nalu, uma outra terapeuta minha sempre dizia que a gordura equivale a uma proteção, a uma prevenção contra a dor. Eu acho que isso tem muita coisa a ver. O que eu noto é que sempre que estou magra e chamo atenção eu fico com um puta medo. Medo de chamar atenção, de me expor a coisas novas, de sair da minha vidinha de todo o dia – quer dizer, de perder a minha segurança.
    Vou pensar mais..

  3. Nalu, que profundo e ao mesmo tempo divertido este post.
    Acho que você já caminhou bastante reconhecendo tantas coisas, mas com certeza você já superou as mulheres da sua família. Bem sucedida profissionalmente, inteligente, carismática, com filho e marido lindos, ou seja, você está a um passinho da realização. Imagine, você magra e sem isto tudo que você já conquistou, a magreza não ia te trazer felicidade nenhuma.

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