Escolhendo Refletir

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Escolhendo Refletir

Ontem eu estava lendo a edição de novembro da Revista Bons Fluidos. Tem dois artigos interessantes, um do Rubem Alves, que faz uma brincadeira com aquele poema Instantes (que muita gente acha que é do Jorge Luis Borges, mas que não se tem certeza da autoria, atribui-se a uma estadunidense chamada Nadine Stein) em que ele diz que viveria sua vida de novo como ela foi vivida, que sua trajetória foi feita pelo que ele planejou e também pelo que ele não planejou, que o fato de seus planos muitas vezes não terem dado certo fez com que ele chegasse onde chegou, e por aí­ vai…E um outro artigo falando sobre o quanto serí­amos livres para mudar de rumo a qualquer momento, e que começa falando do Eterno Retorno, (um conceito que o filósofo alemão Friedrich Nietzche desenvolveu tão bem, e que grosso modo diz o seguinte: a nossa vida repetir-se-á eternamente, cada instante vai ser repetido e repetido infinitamente, seria a sina humana, ter cada minuto de sua vida numa eterna repetição. Está lá na revista).

Obviamente os dois textos falam sobre nossas escolhas. Escolher parece fácil, mas eu particularmente acho bastante difí­cil. E é engraçado, é estranho, perceber como somos presas de nossas escolhas e sequer temos coragem de admitir isso, sempre preferindo culpar qualquer coisa. O que não é novidade, mas nem por isso deixa de acontecer a toda hora.

Em um dado momento do meu passado eu escolhi me afundar na comida, eu escolhi deixar que esse prazer fosse maior que o prazer de ser visualmente admirada, de ser tida como alguém com força de vontade, etc., deixei pra trás essas alternativas e me entreguei ao prazer momentâneo e sensorial de comer. Como também num momento bem mais longí­nquo da minha vida eu escolhi fumar. E hoje, com 30 quilos acima do meu peso inicial de adulta, e tendo fumado por uns 16 anos estou aqui sofrendo as conseqí¼ências dessas duas escolhas que na verdade nem pensei para fazer e foram acontecendo devagar trazendo essa conseqí¼ência que eu não imaginava o tamanho.

E fiquei pensando, essa vida é tão inesperada, temos tão pouco controle do seu rumo, não sabemos nada de nada de nada, somos simples e arrogantes poeira das estrelas, e achamos que somos grandes coisa. Não, não somos, e nesta vida pelo menos não saberemos o que somos nem para onde vamos.

Então o que isso quer dizer? Quer dizer que, enquanto não sabemos o nosso rumo real, o sentido da existência e a resposta para essas perguntas metafí­sicas que todos já nos fizemos em algum momento (nem que seja na infância), tem uma pequena, mas não pouco importante parcela de fatos da vida que podemos controlar. Fatos para os quais temos uma mí­nima autonomia de escolha, e entre esses fatos está a decisão de não se afundar na comida e de não fumar, por exemplo. E sendo assim, porque então nos deixamos ainda levar pela maré e nem esse pequeno direito de escolha exercemos?

Claro que eu sei, existem razões outras e incontroláveis, imponderáveis e etc., atrás de cada passo nosso, mas eu não estou falando dessa dimensão. Eu estou falando da parte que realmente podemos escolher e sabemos que controlamos e assumimos fazer dessa ou de outra forma.

Então, já temos tão pouco controle real da vida, porque não começar a exercer o direito de escolha e escolher caminhos menos tortuosos dessa vez? Como sempre eu sei que é fácil falar e nem tão fácil fazer, mas eu penso que somos seres dotados de RAZíƒO, essa coisa bonita que nos difere dos animais, e podemos começar pensando, refletindo sobre isso. Acho que refletir também é uma escolha.

E é uma escolha muito importante, talvez a mais importante de todas, já que nos leva a quase tudo o mais. E quer reflitamos ou não seremos sempre presa dessa escolha.

Assim, acho que esse post cumpriu seu objetivo que era o de fazer com que eu exercesse meu pequeno direito de refletir sobre coisas que me afetam de muito perto. Dentre elas a própria Reflexão. Era isso.

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