Escola e saco cheio

Minha mãe: “é, volta pra escola mesmo que você fica muito mais feliz quando tá estudando mesmo. Desde 3 anos de idade você pede pra ir pra escola. Você nem gostava de férias, nunca gostou.” Ela fica feliz porque acha que eu vou ficar feliz, posso quase ver ela rindo por dentro.

Agora por que eu resolvi ser advogada ao invés de professora, (ai eu garantia a escola infinitamente) eu não sei. Fico assustada de ver como minha auto sabotagem vai longe. E infelizmente acho que é tarde demais pra virar professora, porque o caminho ainda seria muito longo. Tarde demais não por causa da idade. Mas é que nem com pós pós eu iria ter o tempo e o retorno que tenho no meu cargo. E nem é só pela grana. É muito mais o tempo.

Mas num mundo ideal eu seria eternamente aluna.  

E pra falar a verdade, na prática um monte de coisa me enche o saco na escola. Aliás um monte de coisa me enche o saco na vida.

Sexta vez

Hoje eu estava lá me preparando para voltar aos bancos da faculdade. Pela Sexta Vez. Vai ser a sexta vez que eu vou fazer faculdade (entre graduação, pós e mestrado, quase tudo inconcluso), ai Jesus!
 
Ainda não tenho muita certeza se vou ter paciência para terminar. Pelo menos (mais) uma vez eu preciso concluir algo. Por isso vou retomar. Por que depois de muito refletir e analisar eu cheguei à conclusão de que agora, para mim é melhor concluir algo já iniciado do que iniciar algo novo para desistir. Mas confesso que a tentação do novo foi muito grande. Eu quase fiz a opção por uma segunda coisa que ainda não cursei. Mas foi quase mesmo. Por um triz. Mas acho que acertei não fazendo. Afinal o mundo todo não cabe na palma da minha mão. O que eu ainda preciso trabalhar comigo (mas tenho muita preguiça), é porque cargas d'água tanta vontade de saber. Tanta sede de conhecimento.

Medo.com eca. credo.

Eu sou uma pessoa de sorte. Digo isso porque poucas vezes senti medo real na minha vida. Não sei se são muitas as pessoas que podem dizer isso. Eu não tenho muito medo das coisas. Mas por outro lado passei por poucas situações aterrorizantes na minha vida. Aliás, foi só uma vez. Hoje, há algumas horas. Eu já fiquei presa algumas horas num tiroteio na pior favela daqui de BH (Pedreira Prado Lopes), já tive uma faca contra minhas costas num assalto, já quase afoguei, passei uma situação de risco no meu parto. Nada disso me aterrorizou.

Não tenho medo de voar, nem de altura, nem de estrada, nem de lugares urbanos perigosos, nem do mar (nesse ponto inclusive eu sou bastante temerária). Já estive num acampamento onde estavam homens e nenhum encarou nadar nos rios e cachoeiras que eu nadei, meus amigos via de regra são bem mais medrosos do que eu etc., enfim só pra convencer que eu não faço muito o tipo medroso. Eu tenho medo de insetos.

Mas hoje eu tiver a pior sensação de toda a minha vida e o fato é que foi uma situação que é risível na realidade. Eu realmente achei que ia enfartar, nunca tinha tido um contato com meu irracional de maneira tão devastadora. Nem quando tava parindo.

Vou contar e podem rir, mas se eu tivesse problema de coração tenho certeza que tinha tido um troço, foi horrível, a pior experiência da minha vida. Foi o seguinte:

Eu recebi um email “inocente” desses que se repassa em listas intitulado “VOCÊ É OBSERVADOR?” daí tem um link no email que te manda pra uma página onde supostamente você deve descobrir a diferença entre duas fotografias de paisagem. Ainda diz que a grande maioria das pessoas só descobre 3 diferenças entre as fotos, mas que na verdade tem 19 erros. E você fica olhando as fotos, prestando a maior atenção, porque se houverem diferenças, serão pequenas.

Aí a bocó-jacu-retardada aqui ficou lá olhando e de repente salta da tela com um barulho horrível uma figura de diabo, vampiro, ou algo demoníaco assim. A coisa mais pavorosa que eu já vi. Eu nunca senti tanto medo, tanto pavor em toda minha vida, saí gritando e quase arrombei a porta do banheiro onde estavam meu marido e meu baby que passou mal de me ver gritando daquela forma. Achei que o tal diabo ia saltar da tela e me pegar. Tenho certeza que nem dá pra imaginar o tanto que me apavorou. E eu nem tenho medo de diabo & cia. na real (quer dizer, agora nem sei mais). Deve ter sido muita aula de catecismo que eu fiz na infância. Ou o esquisitão do colégio de freiras que eu estudei. (Eu fiz o maternal em colégio de freiras, que dureza.) Ou minhas tias cristãs, sei lá.

Acho que até os vizinhos ficaram curiosos de tanto que eu gritei. Eu acho uma puta de uma maldade mandarem isso pros outros, meu filho está assustado até agora, mas sei também que minha reação foi muito grande, só não sei porque exatamente. Enfim, se algum de vocês que ler isso e for do tipo assustadiço, não abra um email do tipo que eu descrevi, porque foi horrível, eu tenho certeza que nunca mais vou esquecer aquela imagem pavorosa. Queria saber porque fiquei tão transtornada. Porque eu fiquei mesmo e foi de verdade. Meu corpo todo tá doendo e eu tô com vontade de chorar toda hora.

Câncer de mama

 
Eu ia participar da blogagem coletiva sobre o câncer de mama, pois outubro é o mês pra se falar sobre o assunto. Mas hoje não tenho a menor condição. Acontece que o blog da Denise, o ótimo Síndrome de Estocolmo tem coisas maravilhosas sobre o assunto, muita informação, além dela ter linkado todo mundo que está participando. Então deixo aqui o endereço dele:www.sindromedeestocolmo.com porque quem quiser saber, pode ir lá que vai encontrar muita informação.

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Que alívio imenso. Por um tempo eu tive medo. De amargar mais uns doze, dezesseis anos de tucanos. Mas ai, que bom que não foi assim. Agora seria bom também deixarem o cara fazer o trabalho dele. Seria muito bom.

Por que Lula?

Democracia é maior que qualquer um de nós


Renato Janine Ribeiro *


Adital – Eleição não é luta do bem com o mal. É comparação. Voto em Lula porque, a meu ver, seu governo melhorou o Brasil. Ele recebeu o país com uma agenda ditada pela direita, que reduzia quase tudo à política econômica, ou pior, à monetária e à fiscal; um país que, no fim de 2001, não cumpria mais o Orçamento, sem dinheiro nem para pagar passagens de ministros, com o dólar a R$ 4 e um risco-Brasil enorme.Ora, o governo de centro-esquerda foi capaz de acalmar a economia, de baixar o risco, de aumentar as exportações, enfim, de cumprir uma agenda econômica que não era sua prioridade, nem a dos movimentos populares, e isso sem privatizar nada, sem desfazer o patrimônio público.

Mais, ainda: Lula colocou na política brasileira, de modo definitivo, uma agenda social importante. E com êxito. Segundo Maria Inês Nassif ("Valor Econômico", 24/8), o maior rigor em programas como o Bolsa-Família e os do Ministério das Cidades "desintermediou o voto da população pobre, que antes passava pelo chefe local". Se isso é certo, não há paternalismo na atual política de promoção social.

Não adianta ficar inventando que Lula se proclamou "pai dos pobres". Alguns jornalistas dizem isso, mas nunca informam quando o presidente teria usado uma linguagem tão contrária a suas crenças para se referir a si próprio. Tudo indica que há menos paternalismo agora do que antes.

É engraçado: quando se banhava de dinheiro o grande capital (empréstimos do BNDES a juros baixos para privatizar estatais), a opinião dominante chamava isso de progresso, mas, quando se dá dinheiro aos mais pobres, para comerem e se vestirem melhor, a mesma opinião dominante entende que dinheiro nas mãos de pobres não presta.

Discordo disso.

Quero uma sociedade democrática. Isso significa, em primeiro lugar, o fim da miséria, a redução da desigualdade social.

No horizonte político brasileiro, não vejo força melhor que a coligação de esquerda para promover esse salto qualitativo. Ela tem sido capaz de melhorar as condições sociais com uma temperatura baixa de conflitos, ao contrário do que diziam seus detratores.

O país não pegou fogo. O saldo do governo é positivo: a questão social está sendo bem orientada.

Agora vamos à questão ética.

No governo atual o procurador-geral não engaveta processos, a Polícia Federal age, CPIs funcionam. Já seu principal adversário impediu 60 CPIs de funcionar na Assembléia paulista, deixou uma política de segurança prepotente e ineficaz (porque acabamos sob o domínio do PCC) e uma política de educação que não é das melhores. Eleição é comparação. Não vejo no governo Alckmin superioridade ética sobre o governo Lula.

Contudo, há satisfações que o PT deve à sociedade. Os escândalos mostram que ele é um partido mais "normal" do que imaginava ser. Humildade não faz mal. O PT tem seus defeitos. Deve contas ao Brasil. Tem de fazer uma faxina interna e punir quem errou. Mas, ainda assim, consegue governar melhor que os outros.

Aliás, seria bom o país todo fazer um exame de consciência. Com o financiamento privado de eleições, a porta se escancara para a negociata. Deveríamos priorizar em 2007 a reforma política, com fidelidade partidária, condições mais equilibradas de financiamento às candidaturas e talvez até o voto distrital.

Uma eleição não é uma guerra. Amanhã e sempre, teremos de conviver, quem votou em Lula ou nos outros candidatos.

Precisa cessar o terror discursivo, a ameaça ao voto universal. Este é o segundo ponto em que desejo uma sociedade democrática. Democracia significa respeitar o discurso do outro. Nas eleições, as pessoas se exaltam, mas é desonesto deformar o que o outro disse.

Muito do que hoje se conta sobre o PT ou sobre quem o apóia, como eu, é uma enorme caricatura. Isso amesquinha a política, que deve ser arena de adversários, não de inimigos.

Esse clima envenenado não ajuda o de que mais precisamos, não nós da esquerda, mas nós brasileiros: construir alianças, trabalho em conjunto, convergências. A sociedade é maior que a política. O Brasil é maior que os partidos.

A pequena ambição não pode erodir nossas oportunidades.

Podemos enfrentar a miséria, melhorar a educação e a saúde, integrar os excluídos. Penso que Lula é o mais adequado, hoje, para dirigir o governo neste rumo, mas penso também que este tem de ser um projeto de sociedade, e não apenas de governo. Não estamos, hoje, terceirizando a solução de nossos problemas. Estamos elegendo o mais apto a dirigir um esforço que deve ser maior do que ele e do que qualquer um de nós.

* Publicado na Folha de São Paulo – 03 de Outubro de 2006.

Renato é autor de, entre outras obras, "A Sociedade Contra o Social – O Alto Custo da Vida Pública no Brasil" (Companhia das Letras)


* Professor de ética e filosofia política na USP. Diretor de avaliação da Capes

Noturno

O aço dos meus olhos
E o fel das minhas palavras
Acalmaram meu silencio
Mas deixaram suas marcas
Se hoje sou deserto
É que eu não sabia
Que as flores com o tempo
Perdem a força
E a ventania vem mais forte.

Hoje só acredito
No pulsar das minhas veias
E aquela luz que havia
Em cada ponto de partida
Há muito me deixou
Há muito me deixou

Ai, Coração alado
Desfolharei meus olhos
Nesse escuro véu
Não acredito mais
no fogo ingênuo da paixão
São tantas ilusões
Perdidas na lembrança
Nessa estrada
Só quem pode me seguir sou eu
Sou eu, sou eu, sou eu

Fagner