Eu queria vir aqui e dizer que estou conseguindo. Que tudo ficou pra trás, que eu tenho a força e coisa e tal. Queria que fosse possível viver num mundo de fantasia. Ou queria me conformar em ser gorda. Olha que eu tento. Mui bravamente. Mas.
A história da minha vida, que já está cansando. E eu ontem li uma frase assim: “Você não será capaz de realizar aquilo que não acredita”.
E como é isso! Eu já sei porque não faço dieta, porque não consigo emagrecer. E é muito simples. Eu simplesmente não consigo ficar sem comer. Acho muito dificil me privar do prazer enorme que é comer. Queria ter algum outro prazer equivalente, mas nenhum se compara a comer. E ficar sem isso eu (ainda) não consigo. Mas sei que preciso. Aí achava que o lance era conseguir algo que alavancasse minha força de vontade. Porque eu não procuro desculpas pro fato de não emagrecer, eu sei que é simples (mas não é fácil). Eu sou gorda porque como muito e errado. Ponto. Não preciso ficar me enganando. Eu tenho uma dose mais reduzida que o normal de auto-engano, podem ter fé.
E fiquei procurando algo que me ajudasse com a força de vontade. Não encontrei ainda. Mas aí ao me deparar com essa frase eu vi que na verdade o buraco é mais embaixo. Antes da força de vontade vem a fé, a crença. Não há força de vontade capaz de me fazer lutar por algo que eu não acredito. E a verdade é que algo em mim acha acredita que eu não vou conseguir. Que eu sou a fraca sem caráter que o preconceito pelos gordos prega.
Ai eu vejo você com 49 quilos querendo mui desesperadamente emagrecer e minha crença se fortalece. Se você,com 49 quer emagrecer, eu com isso tudo sou uma idiota se não consigo. Porque é simples. Mas ai me desacredito cada vez mais. E entendo esse processo que está se desenrolando debaixo do meu nariz. E essas tentativas todas me enfraquecem muto e cada vez mais. Cada vez mais. Cada vez mais. Cada vez mais. Eu já vi esse filme antes, e ele é de péssimo gosto.
Eu fico achando que ser gorda/magra é o centro do universo. O umbigo da terra é estar gordo ou magro. Nada é mais importante, quanta futilidade, meu Pai! O que importa a eleição no Império se eu estou gorda? O horizonte se compõe e se divide nessa dualidade gorda/magra. E isso atinge níveis espetaculares. Ainda mais se eu ouço meu filho de cinco anos dizendo que não quer ser o Panda do Kung Fu Panda porque ele é gordo!
Ai meu mundo se destroça mais ainda e eu me diluo nessa realidade fantástica que é o mundo separado entre magros e gordos (na minha cabeça doente). E meu bem, a vida não tem valor desse lado da dualidade. Vocês podem achar que é exagero, eu não me importo. Na minha realidade só isso tem importancia. E eu estou perdendo a guerra, estou em desvantagem insincera perante a Mulher do Espelho.
Aí eu entro nesse paradoxo que é tentar encontrar fé. Eu que sempre dei fé que não se pode forçar a crença. Eu que fui escolher um cargo que todos os dias eu digo que dei fé, minha fé é pública. Pena que ela não serve pra dizer que eu estou magra. Senão eu ia no cartório ontem mesmo e registrava uma certidão certificada atestando minha magreza. Porque qual fé mais que eu preciso?
Eu preciso ter fé que vou conseguir. Mas.Que nem a força de vontade, eu ainda não encontrei pra vender. Nem mesmo na iurd tinha. A moça lá falou:
_–Fé? Tem, mas acabou.
Ai Nalu,como me vejo nos teus textos… impressionante!!! bjs
Nalu, super te entendo, inclusive o seu desânimo.
E te conto que não resisti, foi a uma clÃnica e saà de lá com uma receita de sibutra. Eu me rendo, tô de saco cheio dessa luta eterna.
E agora com essa coisa do joelho eu tenho que dar um jeito de emagrecer até janeiro.
Vamos ver se assim dá jeito.
Beijo, querida. Fica bem aÃ, viu?