Terminei de ler ontem, depois de dias dessa leitura parada o Tête-í -tête. É a biografia da relação entre Sartre e Beauvoir. Apesar de ter devorado a primeira metade, feito uma pausa e devorado a segunda metade numa sentada, e apesar do livro prender bastante, eu não gostei. Fiquei impressionada com o modo como é retratada a vida deles, de que eu já tinha lido outras coisas, claro. Quando novinha li Memórias de uma moça bem comportada, li A Força da Idade e me lembro que gostava da figura deles.
E novinha, eles eram uma espécie de modelo prar mim. Claro que autobiografia é diferente. Mas esse livro dá a impressão de que os dois eram quase cruéis, mostra como sofreram tantas pessoas nas mãos deles, como eles mentiam terrivelmente para todo mundo e como zombavam das pessoas e as expunham de modo quase cruel.
Mas nem foi isso que me incomodou tanto. Certamente deve ter sido complicadissima uma relação assim como a dos dois e se a deles deu certo foi í custa de um bocado de sofrimento alheio. Até ai nada de novo. Apesar de que a relação deles como mostrada no livro era uma relação de amizade não era romantica. Eles não tinham uma relação corporal por longos anos e quando tiveram foi por pouco tempo.
Mas na verdade o que me incomodou, e que eu nem sei se é verdade é como ela coloca com leviandade o desenvolvimento da Beauvoir que se preocupa com a questão feminina. No livro aparece quase como se o Segundo Sexo fosse escrito por uma sugestão de Sartre que Beauvoir resolve acatar, porque não tinha mais o que fazer, nem assunto pra escrever. E ela senta, pesquisa um pouco, escreve e pronto… Como se as questões levantadas no livro não fossem importantes para ela. Como se depois de acabado o livro (do qual ela praticamente só fala da feitura do primeiro volume) ela não mais tivesse nada a ver com ele ou com as idéias dele.
Eu nem estou sabendo me expressar direito, mas achei que ficou faltando algo, a Simone do livro é algo artificial, é estranha, meio incoerente, meio de plástico. E Sartre um arrogantezinho insuportável e mulherengo, um mentiroso que enlouquecia as inúmeras amantes, que não gostava dos homens. Mas pelo menos com Sartre ela mostra a grande generosidade dele e seu desapego das coisas materiais. Com Beauvoir nem isso. Enfim, sei lá, não gostei. Gostava mais da imagem que eu tinha antes deles. Deve ser idealizada essa imagem que eu tinha antes, mas achei esse casal que um dia me fascinou na realidade, como casal, nesse livro bem besta. Apesar de saber que foram dois grandes pensadores. O quê, se o livro corresponder bem í realidade nada tem a ver com esse fato. Eles eram grandes pensadores, isso é certo.
Agora (não agora exatamente, que a minha pilha de livros está grande) quero ler o livro O Século de Sartre.
Aqui tem um link excelente sobre Simone de Beauvoir.