mocinha

148602g.gifHoje tive duas idéias, dois insights: Primeiro, a partir deste comentário da Greice. Que me fez pensar em que comer sentimentos, engolir sentimentos não é apenas isso, engolir o que não foi possí­vel colocar pra fora, pode também ser o contrário, ou seja, a gente pode comer justamente o que não conseguiu segurar, as coisas que entraram em ebulição.

Enfim, pra mim, com alma de gorda, tudo é motivo pra comer.

Eu não quero ter alma de gorda, não quero precisar exorcizar minha alma gorda. Nem alma magra, minha alma tem que ser somente minha alma. Do meu tamanho de preferência.

Mas hoje a gente vive num mundo em que tem que simplesmente exorcizar o que se é. Nada parece suficientemente bom, algo sempre precisa ser freneticamente mudado na vida, na personalidade. Cultura do espetáculo, essa nossa. Bem espetaculosa… E eu que tô tão longe da mocinha.

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A outra idéia que eu achei muito legal e que eu acho vai me ajudar é fazer como essa moça desse blog. Ela fotografou as semanas dela. A evolução dela, semana a semana em fotos. Gostei da idéia. Vai ser um tremendo exercí­cio pra mim que odeio ser fotografada. Odeio agora que estou gorda demais. Porque eu adorava. Escrevi um post uma vez falando sobre a mudança das minhas fotografias de acordo com meu peso, como meu sorriso foi se apagando conforme os quilos foram se instalando.

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Queria mesmo era assumir esse corpo, tratar de me embelezar e pronto, me aceitar, não ficar tão presa neste mundo de objetos e sí­mbolos, mas eu não posso, não consigo. Eu realmente sofro com isso. Queria ligar um enorme foda-se pra tudo isso e não deixar que censurem minha fome, mas não dá eu não sou bem resolvida o suficiente pra isso. (Esse comentário vai dar bode, eu sei, mas não tô mais aqui pra ficar mentindo pra mim mesma.)

Ainda me afeta uma médica me atender e me desprezar porque eu estou gorda. Não se ater ao meu problema e me passar um diagnóstico porco porque eu sou gorda. Ainda me afeta o nojinho que a gordura desperta nos outros, ainda me afetam os rótulos de incapaz, preguiçosa, sem caráter pregados na minha testa quase toda vez que alguém me olha. Eu sei que são rótulos que eu mesma preguei, tudo bem.

Muita gente vai dizer, não, não, Nalu, não é bem assim! Mas se vc não é gordo, gordo mesmo, de verdade, você não sabe o que é isso. E pode acreditar que eu não tenho orgulho de saber disso mais que ninguém, adoraria não saber. É. É assim mesmo.

Por isso que minha fome seja regulada, pois, por essa sociedade de mulheres famintas*. O controle é tal que é aceito como voluntário. Hahahahaha, faz-me rir.

hungryhungry.jpgMas meu corpo também é texto cultural né? Nele também tá inscrito que não pode ser guloso, não pode ser gordo. É feio, menina.

Sem esse papo de vida saudável, tá? Que saudável é tb algo que alguém define né não? E não fui eu hahahahaha.

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Então a gente vai caminhar ai na seara do emagrecimento, da RA. Como se eu precisasse ser reeducada, ai zeus!. Mais essa falha na minha já tão capenga educação.

O post tá meio cáustico, mas eu tô bem, muito bem, não se iludam. Só não consigo (nem quero) ser muito miguxa e feliz neste particular. Vai ver que essa cara feia é fome.

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*Esse é um excelente texto pra entender um pouquinho o que a sociedade faz com a fome das mulheres atualmente. É um texto técnico, de sociologia, é grande, fala de Foucault (hahahaha) mas recomendo fortemente. Pra quem curte esse tipo de coisa mais heavy. Quem quiser leia, é fantástico!!!! Sociologia é um excelente Mata-Mitos. Pena que não mate a fome. Aliás, até mata, mas a longo prazo. E eu preciso me apressar.

12 comentários em “mocinha”

  1. Nalu, impressionante como você consegue colocar em palavras os sentimentos de quem é gordo e passou a vida inteira querendo não ser.
    Isso aqui está muito bom, viu? Acho que vai funcionar como uma terapia coletiva prá algumas pessoas. Senha número 1 prá mim, faz favor, tá?
    Beijo, querida.

  2. Também estou na terapia coletiva com a Isa.
    E espero que meu comentário não tenha te confundido… rs… mas como minha compulsão é apenas de vez em quando, eu consigo identificar claramente em que momento eu desconto minha raiva na comida. Mas saber isso não serve de nada pra controlar, sinceramente…
    Eu tenho e MUITOS momentos de achar que eu não tenho que seguir os padrões culturais e tal, mas depois vejo uma roupa bonita que só fica bem em quem é magra, aí já era… E realmente tem a questão de saúde, de pressão alta e tal.
    fique bem, viu? te adoro muitão!

  3. Nalu, acho que esse “papo de engolir sentimentos” tem tudo a ver…o emocional comanda nosso corpo 100%.
    Mas tenho certeza de que cvom sua força de vontade vc vai conseguir vencer esse desafio e sair dele com a cabeça erguida, toda orgulhosa.
    E quanto a seguir padrões de beleza…cada hora a sociedade “inventa” um novo: magrela, outra hora mais rechonchuda com curvas, mulherão, peitão, peitinho…enfim…não acredito que tenha um “padrão” de beleza definido, uma coisa definitiva, sabe? A todo momento “inventam” um padrão novo.
    Para mim vale se cuidar sim, mas sem neuras…sem querer a perfeição com o corpo.
    Lembre sempre que o emocional manda sempre na gente. O primeiro passo é ficar bem com ele que o resto é consequência.
    Fica bem querida e boa sorte.
    Bjkas

  4. Nalu, quando fiz terapia, a psicologa me falava exatamente isso, que eu comia meus vazios, os vazios da minha vida! Me identifiquei IMENSAMENTE com esse texto… amei!!
    Bjos

  5. Nalu querida, por onde você andou? Ou melhor, por onde eu andei, que nunca mais vim aqui?
    Quando foi que nos perdemos uma da outra, neste mundo blogueiro?
    Saudades, mulher!!!!
    Achei você ao ler um comentário seu no blog da Déia, quase não acreditei!
    Que coisa boa!!!
    Amei seu post, aliás, como sempre gostei de tudo que já consegui ler.
    Eu volto! E você? Volta no meu? hahaaaaa
    Beijos

  6. Cáustico sim, mas fantástico, realista e afins. Na verdade, mesmo em processo de deflação, ligar o foda-se é importante. Porque tudo é cobrado da gente. Porque não temos o direito de cuidar da vida da gente como bem queremos. Ex, eu pesava até novembro do ano passado 58 kg para os meus 1,65 de altura. Menos de meio ano depois: 80 kg. Ninguém pergunta se eu engordei porque comi. Não temos esse direito (nem esse!), perguntam se eu estou grávida, se estou tomando corticóide, se estou com problemas de saúde. É um saco. A gente até aceita UM POUCO, mas nunca é totalmente sincera essa aceitação.
    Gostei daqui. 0 hipocrisia. Tudo o que precisamos para melhorar a nossa vida, a nossa vontade, a nossa experiência, e não os padrões. Abraço e boa semana!

  7. Olá Nalu!! Eu nunca ‘vivi’ feliz gorda! Quero sempre me lembrar daquilo pra nunca mais deixar Eu fazer tal coisa comigo!! Estamos nessa vida de perda de peso. Sabemos que é bem além disso!É impressionante a quantidade de pessoas semelhantes a nós! Não sofrer sozinha não minimiza! Mas faz a gente pensar que poderemos conseguir. O que? o nosso objetivo, que não é atingir o padrão de ninguem e sim algo que nos faça feliz! Beijos e eu volto!

  8. oi Nalu, como sempre, cada post seu é uma inspiração pra mim, muito obrigada! Há, me diz uma coisa: O QI mental, vc tem feito? eu não vi mais aquele link onde tinha a explicação, vc ainda o tem? Eu gostaria muito de ler aquele texto novamente…beijos…

  9. Olá Nalú, tudo bem?
    fui lá ver o tal blog que vc falou…muito motivador mesmo… tomara que te ajude muito. Estava um pouco sumida pensando na vida, agora estou voltando pq sinto saudades de vcs. Bjão e força aí

  10. NALU, primeira coisa – EU TE AMO!!! E,olha, amei esse blog,vc. escreve muuuuuito,amei!!! E te falo outra: Todo mundo tem alguma pendenga consigo mesmo. Eu,por exemplo sou super simpática, querida, “top model” e tals. Estou magra e bem agora. Mas fumo. Alguma coisa eu tenho,né, bem ??? Senão seria “livre” de vícios e neuroses,neam ??? Então,amiga, aceitar as nossas fraquezas e tentar mudar,sem desespero, já é um grande passo…Espero que dê tudo certo para vc,querida!!!
    beijos
    Bianca

  11. Oi, Nalu
    É assim mesmo que vivemos: nesta eterna gangorra por conta dessa cobrança para que tenhamos corpos esquálidos, embora grande parte da população esteja acima do peso – vai entender!?
    Acho que vc vai gostar muito de um post que coloquei no meu blog com um texto atribuído ao Herbert Vianna. Se puder apareça por lá!
    Beijíssimos!!

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