Rubem Alves
Para falar sobre a relação entre mães e filhas(os), sugiro que leiam algumas das terríveis estórias dos irmãos Grimm, em especial a “Branca de Neve” e a “Cinderela”. Os contadores de estórias daqueles tempos, para não provocarem a ira das mães, que se julgavam sempre boas e justas, falavam de “madrastas”.
Mas as madrastas, na realidade, eram as mães. A complicação das relações entre mães e filhas e entre pais e filhos (a estória de João e o pé de feijão: o gigante, que possuía a harpa encantada e a galinha dos ovos de ouro, é o símbolo do pai cruel, que o filho acaba por matar) é muito, muito antiga. Nas estórias antigas, as mães e os pais são sempre os vilões. E é provável que fosse assim mesmo, naqueles tempos. Mas hoje as coisas são diferentes e as estórias teriam de ser reescritas, para fazer justiça í complexidade da situação. Se a sua filha (seu filho) é adolescente, a solução é muito simples.
Para se lidar com adolescentes só há duas regras – tudo dependendo apenas de você. Primeira regra: “Não faça coisa alguma. Tudo o que você fizer estará errado”. Aceitem essa dura realidade: nós, pais, somos impotentes diante dos filhos adolescentes. Não há formas de convencê-los a seguir os caminhos que julgamos os melhores. O que caracteriza a psicologia do adolescente são duas coisas: primeiro, a sua determinação de afirmar sua identidade, por oposição í mãe ou ao pai. Mais importante que fazer a coisa certa é fazer a coisa que não é aquilo que a mãe e o pai desejam. Assim, se você tem um conselho sábio a dar, não o dê. Cale-se. Porque se você o der, sua filha (seu filho) será obrigada(o) a fazer o contrário. Segundo: sua fidelidade irrestrita í turma. O adolescente ainda não possui um centro próprio. Sua identidade se encontra na sua turma. Ele fará o que a turma faz: ouvirá as músicas que a turma ouve, usará as roupas que a turma usa, irá aos lugares aonde a turma vai, pensará os pensamentos que a turma pensa. Não há nada que se possa fazer. Não caia na tolice de tentar dialogar. Os adolescentes sabem que diálogo é artifício dos pais para convencê-los a fazerem o que eles, pais, desejam.
Assim, a única posição sábia é adotar a postura a que o taoísmo dá o nome de wu-wei: refrear o impulso de fazer (e que fatal) e simplesmente não fazer nada.
A segunda regra, que não necessita de explicações, é: “Fique por perto para catar os cacos, se for possível”. Felizmente, na grande maioria dos casos, essa doença se cura por si mesma, como caxumba ou resfriado.
Mas há os outros casos, amargos, azedos, cortantes, das relações entre mães velhas e suas filhas adultas (seus filhos adultos). Quando estar junto e conversar já não dá prazer. Quando o estar junto significa tensão e irritação. Quando a felicidade vem quando se dão os beijinhos de praxe da despedida. As duas partes são culpadas. De um lado os filhos querem mudar os pais, seus hábitos, suas opiniões. Que os filhos se esqueçam disto.
A norma é que os pais sejam irreformáveis. Mudar, nesse ponto da vida, é reconhecer que a vida foi um equívoco. E isso é muito duro. Se os filhos desejam ter boas relações com os pais, ouçam o que eles têm a dizer e entrem no jogo, numa boa. Do outro lado, os pais não aceitam que os filhos tenham atingido a sua independência e tenham idéias próprias – e ficam tentando fazer com os filhos aquilo que os filhos tentam fazer com eles: mudar.
É o caso da mãe que vai visitar a filha e desanda a administrar a casa e a dar ordens para a cozinheira… O segredo das boas relações é não jogar tênis. Jogar só frescobol…
In: ALVES, Rubem. Coisas do Amor. São Paulo, 2002.Ed. Paulus
Nalu, sou fã de frescobol, sempre… Seja no casamento, no trabalho, na relação com amigos e, principalmente, filhos!
Beijos
Ei nalu, adorei o texto, excelente!! Vou reler com muita atenção e guardar pra tentar aplicar no futuro, rsrsrs.
Beijos!
Nalu,por acaso minha casa era palco de um BBB e eu nem sabia?
Menina, essas são bem eu e minha mãe.