o lado sombrio do prazer

Estou lendo um livro muito interessante, apesar do tí­tulo muito besta. É A Fórmula da Felicidade. Gostei particularmente deste trecho abaixo.

Tem tudo a ver com a questão do emgrecimento, principalmente se o excesso de peso é devido í  compulsão alimentar, como no meu caso.

Sobre o livro, veja aqui. Se quiser ler mais sobre o capí­tulo do qual eu extraí­ este trecho, leia aqui, O Lado Sombrio do Prazer.

(Apesar do tí­tulo, o livro é legal. Eu adoro livros que falam sobre o cérebro, especialmente sobre a felicidade e o cérebro. Tem muita coisa sendo publicada esses dias sobre o tema, que certamente não deixam de ter um quê de auto-ajuda. Mesmo assim, eu gosto deste tipo de livro.)

A ânsia descontrolada pelo prazer

Uma das conclusões mais irritantes dos estudos fisiológicos sobre o sentimento de gratificação é que as dependências quí­micas, não importa de que natureza, usam os mesmos mecanismos que no dia-a-dia são responsáveis pelo aprendizado e pela fruição normal do prazer, sendo, portanto, necessários a sobrevivência. Precisamente por isso, o estudo das dependências também mostra revelações importantes quanto í  atividade psí­quica de pessoas saudáveis. A dependência é um acidente na busca de todos nós por felicidade.

A evolução não programou nada para evitar que nos prejudicássemos dessa maneira, pois não podia prever essa circunstância que só ocorreria em um futuro distante. Há uma centena de milhões de anos, quando a maior parte dos nossos padrões de comportamento atuais foi estabelecida nos genes, não se podia imaginar que os humanos um belo dia consumiriam bebidas alcoólicas, construiriam cassinos e sintetizariam cocaí­na. Há apenas dez gerações, na época em que a fome era um flagelo freqí¼ente em muitos paí­ses, não se tinha idéia de que a agricultura altamente mecanizada viria a ampliar a oferta de alimentos de tal forma que a obesidade se tornaria um grave problema de saúde pública.

A dependência, portanto, pode ser compreendida como um desejo que escapou do controle. Podemos relacionar até mesmo os sete pecados capitais a um excesso da nossa aspiração natural pela felicidade. Orgulho é amor-próprio em altas doses, avareza é parcimônia excessiva e inveja é um exagero da nossa tendência natural de buscar nas outras pessoas um ponto de comparação. A gula surge sempre que o organismo não responde í  ingestão de alimentos com a sensação de saciedade. A luxúria nos domina quando não encontramos no sexo uma satisfação plena, o que nos faz querer sempre mais. A ira e a agressividade descontrolada, não submetida í  razão. A preguiça é o estado em que ficamos quando, depois de um relaxamento saudável, não conseguimos recuperar o ritmo e a motivação naturais. As drogas funcionam exatamente como as fatí­dicas alavancas nos salões de jogos e nas gaiolas dos ratos, aumentando a quantidade de dopamina no cérebro. Sob efeito do álcool, o ní­vel dessa substância praticamente dobra; e com nicotina e cocaí­na, até mesmo triplica, como constatou o toxicólogo italiano Gaetano Di Chiara. Como a dopamina desperta e intensifica a atenção, depois de fumarmos um cigarro nos sentimos agradavelmente estimulados para o trabalho. Duas taças de vinho nos enchem de otimismo.

Todas as dependências quí­micas, portanto, estão baseadas no mesmo mecanismo, e as drogas apenas se diferenciam pela maneira como o ativam. A nicotina libera dopamina de forma mais direta, com a ativação dos neurônios correspondentes. O álcool, a heroí­na e a morfina aumentam o ní­vel desse neurotransmissor por via indireta, pois inibem os neurônios que normalmente contrapõem ao circuito de expectativa. A cocaí­na, por sua vez, evita a reabsorção normal da dopamina pelas membranas celulares, conseguindo assim que essa substância circule por mais tempo no cérebro. Quem consome o “pó branco” vivencia um estado parecido com aquele em que se encontrava Leonard, o paciente de Oliver Sacks, sob o efeito do medicamento L-Dopa, que o fazia sentir-se todo-poderoso.

Em última análise, o que importa é saber o caminho pelo qual um ní­vel mais alto de dopamina será obtido. É necessário que essa situação aconteça, pois ela estabelece no cérebro uma associação quase indissolúvel entre a droga e a ânsia de consumi-la. Ao reconhecer um cigarro, o cérebro de um fumante aciona imediatamente o comando “acender”. O estí­mulo “garrafa”, por sua vez, desencadeia o desejo de beber. Basta a visão de uma seringa para que o aviso do desejo surja no cérebro de um dependente de heroí­na, como mostraram análises com o tomógrafo de emissão de pósitrons. É dessa maneira que a nicotina, o álcool e a cocaí­na penetram nas estruturas cerebrais responsáveis pelas sensações de prazer: como os guerreiros gregos escondidos no cavalo de Tróia. Em outras palavras, o cérebro de quem tem uma dependência é como uma cidade conquistada.

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2 comentários em “o lado sombrio do prazer”

  1. Eu tinha mesmo tentado, mais de uma vez comentar e não abria rsss inclusive travou meu pc rsss mas tudo bem, agora está ok.
    Eu imprimi o texto do livro para ler direito.
    Eu gosto desses livros que pretendem nos ajudar a “ser feliz”. Claro, porque ainda não “sou feliz” mas tenho muito interesse em ser rssss
    Na verdade não acredito em “felicidade” acho que é mais uma “exigência” que nos colocaram: além de tudo, temos de ser felizes! E vá ser feliz para ver se dura e se é mesmo possível!
    Eu me contento com algumas alegrias (rsss) tipo (muito a propósito) quando subo na balança e emagreci… dura alguns dias pelo menos rsss
    Mas “ser” mesmo alguma coisa, acho bem difícil, quanto mais “ser” feliz.
    Por isso gosto do André Comte Sponville… ele é melancólico e taxativo: quando a “alegria” nos parece possível, então estamos felizes… passageiro como tudo na vida…
    Beijos

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