some fúria

Fúria nas trevas o vento
Num grande som de alongar,
Não há no meu pensamento
Senão não poder parar.

Parece que a alma tem
Treva onde sopre a crescer
Uma loucura que vem
De querer compreender.

Raiva nas trevas o vento
Sem se poder libertar.
Estou preso ao meu pensamento
Como o vento preso ao ar.

Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”

Esse poema traduz tudo que estou sendo no momento.

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O que fazer quando um dia são muitos dias num só? São muitos meses, são muitas vidas num só dia? O que fazer quando o dia é cheio de som e fúria e sem abrigo, sem porto seguro, sem velas ao longe? O que fazer quando o dia é tão cheio de meses e anos que não se tem um pingo de fome, mas se tem um fixação oral incontrolável? Quando na verdade só o útero ou o seio materno adiantariam pra amenizar tanto sentimento junto?
Nada é suficientemente saudável num dia assim.

5 comentários em “some fúria”

  1. Oi Nalu!
    Vi que me ‘linkaste’ lá no blog e vim te fazer uma visitinha também…
    Gostei dos teus posts…
    Em especial esse último com o poema de F. Pessoa. Têm dias que nem um ponto de interrogação é suficiente para demonstrarmos que não compreendemos nada… nenhum porquê. Mas são dias… logo amanhece e já voltamos a sorrir!!!
    Um beijo,
    Cáie

  2. Esse seu post me lembrou um poema, se não me engano é um trecho do Poema Sujo, do Ferreira Gullar, que fala sobre as várias velocidades do dia e como em um dia há muitos dias…
    Beijo!

  3. Nalu, a escrita me ajuda a fazer uma auto análise, eu gostaria de expor todos meus poréns…. mas tenho medo. Tenho medo da crítica, do julgamento mas contar para alguém certos sentimentos e coisas por que passei me ajuda a me absolver, estou encarcerada num poço de culpa e de sentimentos que jogam contra mim o tempo todo mas aos poucos, quem sabe, eu consigo ir me libertando…. Não gosto de posar de vítima mas minha criação foi punk e com certeza é uma das coisas que me mantém escrava de vários bichos, bjs, escreve mais, é sempre muito bom te ler!! Bjs, Ge.

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