Essa primeira garota aí da foto é uma amigona que eu tenho, menina super inteligente, é juíza em São Paulo, é bem informada, culta, super gente boa. Fazia uns dois anos que eu não a via e nós tivemos um encontro esse fim de semana. Ela tem esse corpinho que vocês estão vendo aí, até mesmo atualmente está um pouco mais magro. Daí ela disse no encontro (estávamos eu ela, meu marido, marido dela e outra amiga da faculdade com o marido) que estava GORDA, que tinha pneuzinhos na barriga, que precisava emagrecer, coisa e tal.
E ela realmente acha isso, ela está genuinamente preocupada com isso. Eu fiquei com uma sensação incômoda, não tanto pelo fato de estar bem uns 25 quilos mais gorda que ela, mas pelo fato de que a maioria, mas a maioria das mulheres que eu conheço, (incluindo minha sobrinha linda de dez anos completados hoje e a outra de seis anos), terem a auto imagem tão distorcida.
E me lembro de quando pesava 61 quilos e achava que eu estava MUITO gorda. Fico pensando, só pode ter alguma coisa muito errada, mas muito errada mesmo com uma sociedade que fomenta essa imagem feminina

como modelo de beleza. (É claro que eu exagerei um pouco na foto, mas não está muito longe do real, não, afinal ela é modelo…).
Porque certamente isso não é um delírio coletivo, não é uma ilusão de nós mulheres. As mulheres não conseguem enxergar seu corpo.
Como dizem os antropólogos, o corpo é uma poderosa forma simbólica, o corpo é uma metáfora da cultura, é palco de um microcosmo social. E como é que viemos parar aqui, heim?

Olhem essas mulheres das fotos que eu botei aqui: Marilyn Monroe, Leila Diniz, Sophia Loren, Ingrid Bergman, Luz del Fuego, Marta Rocha. Mulheres que foram ícones indiscutíveis de beleza, foram referência de imagem para as mulheres de sua geração. E não faz tanto tempo assim. E hoje todas elas seriam gordas. (Mesmo assim eu continuo achando que elas são lindas, parecem mulheres de verdade.)
Será que o conceito de beleza varia rápido assim mesmo ou será que esse modelo anoréxico de beleza que temos hoje não está a serviço dessa ideologia tão contraditória que nos arrasta neste ranço (que ainda resta) de uma sociedade machista e patriarcal? Quero dizer, será que não é mais uma vez uma forma de negação da feminilidade genuína? Será que a contenção, a transformação da fome feminina em vergonha não é a expressão de uma regra subjacente que diz que a fome da mulher, por poder na esfera pública, por trabalho, por igualdade de salários, por uma sexualidade gratificante, tem que ser contida?
Será que não é para ocuparmos nossas lindas cabecinhas, antes com os pneuzinhos na barriga, do que com algo como a política ou qualquer coisa mais socialmente abrangente? Pode ser que eu tenha viajado, não sei, mas neste livro tem umas reflexões maravilhosas sobre esse tema.
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Respondendo ao comentário da Gaby, que colocou o seguinte: “Mas tem um lance, Evel. Ate antropologico. A mulher sempre teve que ser atraente pra atrair o macho alfa…hahaha…certo? A mais bonita pegava o macho mais competente da caca, etc e isso deve ter gerado uma ciumeira animal nas concorrentes e dai da-lhe se esforcar pra ficar em shape. Alias, na Antiguidade as romanas morriam ao tentar pintar sei la com o que, mas sei que toxico os cabelos de loiro. No fundo, a vaidade esta enraizada no subconsciente feminino coletivo ha milhares de anos, ate por questao de sobrevivencia ou so pra relembrar o QI Mental e o Dr. Joao pra afastar o medo ancestral de morrer de fome.”
Gaby, o que você disse está certo, acontece e aconteceu mesmo, mas eu me pergunto o seguinte:
1º) Será que sempre foi assim mesmo, digo será que sempre foram as mulheres que se pavonearam e se torturarem fisicamente por causa dos machos alfa?
2º) Será que não isso não aconteceu depois que o homem percebeu que afinal, ele também tinha participação na procriação. Porque afinal de contas, o que é raro na natureza são os óvulos, não os espermatozóides. Eu fico só pensando o seguinte, será que em í‡atal Huiyuk (provavelmente a primeira aglomeração humana de que se tem vestígios, um dos sítios arqueológicos mais antigos, e que, especula-se não era patriarcal e onde havia vários tipos de cultos í deusas)era assim? í‡atal Huyuk nem está tão longe assim, são mais ou menos 8.000 anos atrás, nós já temos no planeta mais de 35.000 anos. (Corrijam-me se eu estiver errada). Porque a história de que temos notícia é muito recente em termos da idade da humanidade, o período romano, por ex., está muito perto ainda. E nos primatas há exemplos de comportamentos tanto de cunho machista como igualitário (se é que eu posso usar esses termos para primatas, hahahaha), tanto violento como pacífico. Enfim, são dúvidas que provavelmente não serão sanadas facilmente, mas de todo modo, eu acho que há algo errado, muito errado sim. O tempo passa, a sociedade “evolui” para uma vida mais igualitária (pelo menos é a idéia que se vende e nós compramos aqui no Ocidente “democrático”) e as mulheres cada dia se torturam pelos machos alfa de maneiras mais bizarras? Sério, eu não acho que isto seja certo, nem muito menos natural.
Se quiser, dá retorno, ok?
Sobre í‡atal Huyuk, site da UNB http://www.unb.br/ih/his/gefem/labrys6/labrysbr.html
Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%87atalh%C3%BCy%C3%BCk que aliás já é machista só na colocação do assunto .
E um livro que em português já está esgotado, mas tem sobre o assunto uma discussão excelente, í s vezes se encontra em sebo. Chama-se O Cálice e a Espada, de Riane Eisler. Link para o livro em inglês:
www.amazon.com/gp/product/0062502891/ref=sib_rdr_dp/002-2131227-3966415?%5Fencoding=UTF8&me=ATVPDKIKX0DER&no=283155&st=books&n=283155
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Mais uma coisinha, momento mastercard:
Estar há 26 dias sem fumar e ainda conseguir emagrecer, não tem preço.
E deixa eu ir trabalhar que já estou atrasada. De noite volto.

